Por.: Rafael Bernini
Uma forte tempestade cai. O portal está aberto…
Meu nome é Simon. Sou príncipe herdeiro de Gorth, reino de Mustapha, meu pai, que era o senhor da guerra e do caos. Sua única obsessão era o poder e a glória.
Éramos descendentes direto de vampiros, a mais alta classe existente. Governávamos palácios e derrubávamos reinos, tempo em que o inferno era apenas um lugar.
Elric era o braço direito de meu pai, foi mordido ainda criança para governar o exército que se preparava para dominar toda escuridão. Mas não foi bem assim que aconteceu. Ele traiu meu pai, atravessando-lhe o peito com uma lança banhada em água benta, que o fez virar pó. Fui torturado e obrigado a viver em um túnel no subterrâneo, preso por correntes santas. Mil anos preso, sentindo cheiro de sangue. Tudo o que queria era uma chance de me vingar e seguir meu caminh para o inferno.
Um cheiro podre toma conta de uma gruta, alguém anda pelos túneis sombrios cantarolando algo ouvido na guerra. Segue até uma porta lacrada por correntes com um imenso cadeado sem encaixe para chave. Um sorriso misterioso toma conta do intruso.
– Querido, ainda usa esses cadeados divinos? Ele não aprende nunca.
Segura o cadeado e o quebra com uma das mãos como gravetos.
Atrás da porta, um corredor. Vários corpos pendurados por correntes.
Um ainda se move.
– Ora, ora. Será que o mundo é tão pequeno assim que acabei o achando num lugar destes?
– Quem é você infeliz? – pergunta o acorrentado.
– Estava passando por aqui e achei interessante te fazer uma visita.
– Quem diabos é você?
– Eu sou aquele que pode te trazer a vida. Eu posso ouvir seus lamentos, sua dor, sua súplica. E o melhor: sinto que você é um dos poucos vampiros que ainda tem uma alma. Sabe por quê? Você é o único que realmente pôde se alimentar do sangue de Cristo, e se tornar o portador do poder.
– E daí?
– Vamos fazer um trato. Devolvo sua força e você me dá o purgatório, o que acha?
– E como posso te dar isso?
– Derrote Nero e me coloque em seu posto. Somente assim poderá chegar até Elric.
– Aceito sua condição. Mas como conseguirei minhas forças de volta?
– Simples!
O homem arranca uma faca de seu bolso, corta um pouco acima de seu ombro e coloca a cabeça de Simon para que possa se alimentar. Em pouco segundos seu corpo revigora.
Simon se levanta e abre suas imensas asas negras. Arrebenta as correntes, mas um pouco delas ainda sobra em seus pulsos, como se fizesse parte de seu corpo agora.
Anda em direção à porta; percebe que o mundo não é mais como antes. Saindo por uma antiga igreja, no cemitério, não tem mais noção de onde está. Segue em frente até uma saída que dá para a imensa cidade. Prédios e grandes edifícios, coisas que nunca imagina-ra ver em sua vida. Alça vôo em direção ao céu nublado. Pára. Sente-se fraco e ainda está com fome.
– Olha que belo – o estranho aparece novamente.
– Preciso me alimentar.
– Então venha comigo. Prazer primeiro, depois alimento.
– Aonde vai me levar? – questiona Simon.
– A Nero.
– Como poderei matá-lo, fraco assim?
– Use as correntes. Mas cuidado, Nero é temido por sua agilidade e esperteza. Para matá-lo, deve arrancar sua cabeça. E não se esqueça, pegue a chave em seu pescoço.
– Sim.
– Então vamos.
Entrando em uma boate, seguem até um andar inferior. Simon logo está sozinho. Vê uma porta rodeada por guardas, imagina que ali está quem procura.
É barrado pelos guardas.
– Aonde pensa que vai?
– Preciso falar com Nero.
– Ele não quer ser incomodado.
– Mas eu insisto – e segue em frente.
O outro segurança o empurra e, com a mão esquerda, Simon o golpeia, afundando o nariz.
Rapidamente, o lugar está rodeado de seguranças. Dão tiros em direção a ele, que se esquiva e vai parar atrás de um balcão. Sente um tiro no braço. Começa a jogar garrafas. Várias. Os cigarros se misturam com o álcool e o fogo se espalha. Ele derruba um e pega a arma. Enquanto os corpos estão sendo queimados, ele segue pare seu objetivo.
Um amplo salão, onde há um jovem muito belo cercado de mulheres.
– Como você entrou aqui?
– Seus guardas beberam demais e acabaram dormindo.
– No que posso ajudar antes que chame mais deles.
Simon aponta a arma.
– Sei o que quer, cretino. Você quer minha chave. Mas isso não acontecerá. Porque nenhum humano pode tirar isso de mim. – diz Nero virando as costas para Simon.
– Já viu humano de asas, idiota!
Um tiro distraiu Nero e logo as correntes estavam apertando seu pescoço e removendo sua cabeça.
– Vejo que fez um belo trabalho, Simon.
– Onde posso encontrar Elric?
– À meia-noite de amanhã, quando o circulo azul estiver no céu, voe para seu centro e entre no seu antigo palácio. Lá saberá o que fazer.
Simon lhe entrega a chave. O estranho desaparece.
Uma forte tempestade cai. O portal está aberto e Simon segue em direção à tormenta. Chega ao pátio central. Sua antiga casa. Seu antigo lar. Agora, com uma bandeira do exército de Elric. Por enquanto. Segue em direção a uma entrada ao norte. Um sorriso toma seu rosto depois de anos. Corre pelos túneis e esgotos, chega a uma clareira, onde havia deixado sua antiga espada.
– Olá, querido irmão – diz Elric, acompanhado de um bando de homens – Que honra! De trás do trono, sai o estranho com a chave na mão.
– Aqui esta, meu mestre, a chave para o sangue da vida eterna.
O sangue de Cristo que é guardado no purgatório.
– Obrigado, Lúcifer, é tão eficiente quanto esperto.
– Seu desgraçado!
Os olhos chamuscam em amarelo e as asas brotam com ferocidade.
– Não terei dó de sua alma quando te matar e te devorar.
– E como isso irá acontecer? – diz Elric – Você esta cercado pelos meus melhores guerreiros. Não há nenhuma chance contra nós.
– Sé é o que pensa.
Empunha a arma e segue correndo em direção a Elric, deslizando a ponta de sua espada no chão numa velocidade espantosa. Crava-a no peito do irmão. O exército vai de encontro a ele, enquanto Lúcifer gargalha. Antes que Simon possa se defender, um clarão e um barulho forte toma conta do lugar.
Quando tudo volta ao normal, estão todos caídos, esquartejados. Lúcifer sumira. Simon olha para o céu, sua vingança está completa, mas agora deve favor a Outro.